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Terminologias não faltam

Terminologias não faltam
Cláudio Costa Val
nov. 21 - 4 min de leitura
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Ouvi dizer que o termo “criado-mudo” tem sua origem na Europa, e pode ter relação com o fato de que as famílias reais e os nobres do passado tinham escravos e serviçais, sendo que uma das suas obrigações era ficar paradinhos, ao lado do seu proprietário e senhor, prontos para atendê-lo. Como estes criados escutavam de tudo um pouco, muitos tiveram suas línguas cortadas, para não sair contando assuntos proibidos e reveladores.

Não duvido. Embora tenha feito pesquisa no oráculo gloogleano, não confirmei o fato. Encontrei algumas versões para o termo, mas nenhuma que me parecesse inequívoca. Ainda assim, acho que a explicação faz sentido, se levarmos em consideração as aberrações que a humanidade produziu, ao longo dos milênios.

Evidentemente, de uns tempos para cá, há uma ala da sociedade que vem se notabilizando por negar a história, a filosofia, a ciência, a arte e a cultura, de modo geral. Para estes seres, tudo não passa de intrigas e mentiras, que têm como propósito atacar os “ilibados” detentores do poder. Melhor nem estender o assunto – até preto negando a escravidão já presenciamos... Daí, afirmar que os criados nunca foram escravos, tampouco tiveram suas línguas arrancadas, nada custa.

Noves fora os negacionistas, muitas terminologias costumam, de fato, ter origem suspeita e curiosa. Já pararam para pensar de onde surgiu o termo “fazer nas coxas”?

Eu sei! Querem ver?

A popular expressão vem do tempo da escravidão, no Brasil Colônia. Outrora, quando ainda não existia aparato para se produzir as telhas, os escravos as moldavam em suas pernas, especificamente nas coxas, para dar o necessário formato arredondado. Cada escravo, evidentemente, tinha o seu porte físico específico, o que significava que as telhas nunca saíam iguais. Assim, e porque as telhas ficavam irregulares, muitas vezes os telhados desnivelavam-se. O termo caiu no gosto popular e hoje, quando alguém cumpre tarefa sem capricho, diz-se que "fez nas coxas".

Ah, sim: é claro que aparecerá alguém retrucando, afirmando ser mentira. Afinal, nunca houve escravidão. Quiçá negros “fazendo nas coxas”. Tudo não passa de intriga. Perdoem-me.

E o que dizer de “o quinto dos infernos”? Não, não se trata do lugar reservado aos canalhas, ao baterem o pacau. Para explicá-lo, precisarei novamente retroceder ao período colonial.

A terminologia tem sua origem na cobrança infame de impostos, exigida pelo Império Português. O quinto correspondia a 20% da produção de ouro da colônia. Afirma-se que o termo era dirigido aos cobradores de impostos, que ao exigir o quinto, ouviam algo como "vá buscar o quinto nos infernos". Com o passar do tempo, o “nos” acabou mudando para “dos”. Daí, a frase transmutou-se para aquela que conhecemos. Ficou bacana. Dependendo da situação, é aliviante e libertador um “vá para o quinto dos infernos!”.

Existe, entretanto, outra explicação – que não deixa de transitar nas cercanias do sentido da justificativa anterior.

Ouvi especialista dizer que era para onde iam os soldados, destinados a acompanhar as carroças que levavam o ouro ao litoral. No século XVIII, as estradas precárias que saíam de Vila Rica, nas Minas Geraes, e levavam ao Rio de Janeiro, eram uma tocaia só. Viviam infestadas de bandoleiros. Aqueles que eram designados a levar o imposto ao porto, visando embarcá-lo a Portugal, estavam fadados a confrontar-se com assaltantes. Seria como ir ao inferno – muitos deles eram assassinados, e seus corpos desovados nas matas e encostas. Do sentimento de pavor ao surgimento do termo, não demorou. Entre eles – os soldados da coroa –, diziam: “fui designado a levar o quinto dos infernos”.

Enfim, é isso. Poderia dissecar mais terminologias, mas termino por aqui. É assunto que nunca se findará, sobretudo porque novos termos e ditados estão sempre a surgir. Daí, o melhor mesmo é “vazar” rapidinho.


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