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Prazero

Mateus Sayão da Silva
dez. 26 - 3 min de leitura
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Trecho do meu diário de junho:

As minhas fontes se esgotaram e quase tudo já está com poeira. O dia chuvoso ou o dia solar em nada me muda mais. Que vale todas as coisas que alcanço dentro de um cômodo se não tenho nem mais força para esticar o braço e pegar um livro? A mão grossa e áspera da ansiedade segura firme por trás do meu pescoço e sua marca me dói. Não adianta nem alongar todos os dias, sua marca é soberana.  Quais poderiam ser os prazeres da pessoa que amanhã completará 100 dias de Kali Yuga? Vejo-me desolado, a beleza e o prazer me abandonaram pela única convivência que tive com elas. O doce das frutas torna-se enjôo após comê-las 7 vezes por 4 vezes por 3 vezes. Lamento por ter secado toda essa terra que era tão fértil antes, mas não havia outras terras mais para fazer isso, por isso, somente ao encontro destas que eu fui. Existe uma Canaã, mas ela não vem agora e não há ninguém na terra da brasa que sabe quando ela chegará. Nesta terra que virá as expectativas da alegria, do prazer e do alívio são colossais e o anseio por ela retarda a sua chegada. A expectativa afunda mais ainda meus passos até ela. Canaã virá, e virá para todos. Os que choram de desespero e avançam de maneira exagerada ao teu encontro aceitam os riscos da morte e pesa sobre os ombros a irresponsabilidade. Mariposas alucinadas pela luz ignoram a morte súbita na chama. Os firmes e persistentes que prezam a resistência ao invés da velocidade são os que carregam a maior responsabilidade – paradoxalmente, tanto uma quanto outra pesam sobre os ombros. Canaã virá e trará consigo prazeres, isso é certo. Manter a dádiva em equilíbrio é essencial pelo que tenho percebido neste Yuga. 

O que fazer quando mais nenhuma jóia brilha, fruta adoça, perfume cheira? O meu erro é olhar para Canaã e não olhar para minha volta. Entende que em minha volta quase tudo secou? A minha maior questão hoje é saber o que eu posso fazer. A dádiva equilibrada deve pôr ilusão e fé; esperança e expectativa em seus justos lugares. Falta-me sobriedade e isso é porque Canaã me seduz, flerta comigo diariamente apesar de nunca poder tocá-la. Imagina isso, um amor que não se toca?

Não é justo comigo e não é justo com Canaã. As palavras da menina que senta à minha direita confortaram meu coração que estava à mercê de qualquer vento. Não é justo com ninguém quando tua luz não ilumina teu redor e incinera um único alvo. Entendo, mas o que farei? O que posso fazer?


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