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Crônica: Da minha janela

Crônica: Da minha janela
Sthefany Martins
out. 3 - 2 min de leitura
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Maio de 2020. Os dias têm sido cada vez mais difíceis. O mundo adoeceu por inteiro. Milhares de pessoas morreram, milhões foram infectadas por um vírus invisível que se propaga pelo ar. Sem vacina, sem cura, uma das únicas proteções que se têm é o isolamento total e completo. Não há mais abraços, nada de apertos de mão. Todas as portas foram fechadas e a humanidade perdeu o direito de ir e vir pelo bem da sua própria sobrevivência. 

O meu quarto é o único cômodo da casa que recebe raios diretos de luz solar. Se eu sinto frio, solidão ou medo, é exatamente pra lá que vou. Sentir o sol na pele me confirma que ainda estou viva.

É reconfortante saber que existe um mundo inteiro lá fora, apesar de tudo. Os animais não pararam de existir, as plantas ainda florescem e frutificam. Parece até que o planeta respira com mais calma, sabendo que estamos todos enjaulados e com medo. 

Enjaulados. Presos. Confinados.

Da minha janela eu foco em um ponto no céu. É um ponto pequeno, colorido e em movimento. O que me chama a atenção nada mais é do que um artifício milenar, nascido na China Antiga e reinventado para os dias de hoje. Alguns chamam de pipa, papagaio, arraia, cafifa. Eu chamo de "asas de papel que servem como escape para driblar a sensação de falta de liberdade na gente".

Tem acontecido com frequência, você notou? Pessoas que há tempos não olhavam de verdade para o céu retomaram velhos hábitos de infância. E agora, de suas janelas, empinam suas pipas diante da imensidão azul.

Carretel, linha, rabiola, mãos, vento.

Continuem guiando, continuem. Deem a elas o que não podemos ter no momento. E que voem mais alto, e mais alto. E que mesmo que estejam, de alguma forma, presas a nós, as asas de papel desfrutem da boa e nostálgica sensação de ser e estar livre, para além dessas janelas.

 


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